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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Bife Sujo é uma das referências boêmias de Curitiba. Antigo ponto de encontro de músicos e jornalistas


Bife Sujo
Depois de um incêndio provocado por marginais, o Bife Sujo reabre amanhã, 15 de setembro, Dia do Cliente. A data é significativa para um bar que ganhou o nome dos próprios clientes.

O Bife Sujo é uma das referências boêmias de Curitiba. Antigo ponto de encontro de músicos e jornalistas, o bar nasceu na Rua Cândido Lopes, a poucos metros da Praça Osório. Transformado em restaurante de almoço, por força da sobrevivência, hoje se encontra na Rua Saldanha Marinho, entre as ruas Ermelino de Leão e Cabral.

A origem do Bife Sujo já foi contada pelo jornalista Paulo Roberto Marins, numa das edições da coleção LeitE QuentE, da Casa da Memória de Curitiba. “NoitE QuentE” é o título da crônica de Marins, que passa em revista várias épocas da noite curitibana. Assim o autor situa o texto: “1976, Bar Bife Sujo, outra noite qualquer - O lugar oficialmente chamava-se Bar Elle e Ella Ltda., com sotaque português do chinês/moçambicano Eduardo How, que adquiriu o ponto em janeiro de 1976. Embaixo o bar, em cima mora ele com a família. Todos vieram de Moçambique, antes de Samora Machel assumir o poder: a esposa Cristina, os três filhos, o cunhado Tien Sai e o sogro Quen Check Jin, este chinês legítimo. O apelido Bife Sujo foi dado pelo jornalista Márcio Geenen, por causa do barulho da fritura e da gordura que escorre das paredes. Ele se inspirou num bar de São Paulo com esse nome. Pode fazer frio lá fora, mas dentro do bife é uma verdadeira sauna. A cada quibe frito na cozinha, ao ouvir o barulho, o Márcio, com deboche, fala: “Caiu mais um chinezinho na fritura”.

O jornalista Márcio Geenen já não está mais aqui para contar, mas toda uma geração do Bife Sujo cultua histórias da época em que o bar - depois adquirido dos moçambicanos pelo empresário Rui César da Fonseca, dono do imóvel - era animado por três inigualáveis garçons: Pedro, César e Ney.

Em dezembro de 1993, quando o empresário Rui inventou mudar de ramo, a grife Bife Sujo foi passada aos três garçons. E lá foram eles para a Saldanha Marinho, agora donos de suas próprias bandejas.

Em 8 de abril de 1994, o Bife Sujo estreou sob o triunvirato, que durou pouco: César comprou a parte de Pedro e Ney, que não gostou da vida de patrão e hoje é gerente de César, único proprietário.

Só a Prefeitura e as autoridades policiais não sabem: foram a insegurança e a escuridão da Rua Saldanha Marinho que fizeram o Bife Sujo abandonar a clientela notívaga e trocar a noite pelo dia. De segunda a sexta-feira, agora o Bife Sujo é um restaurante de almoço, aos sábados é um bar de feijoada e, no período noturno, fecha suas portas porque está situado numa das ruas mais temidas do centro da cidade. A falta de segurança, iluminação e nenhuma atenção da Prefeitura fizeram da Rua Saldanha Marinho um supermercado ao ar livre de tráfico de drogas.

Polaco teimoso, César Wisniewski não teme o fogo criminoso, nem mesmo os criminosos que rondam impunes nas sombras da Saldanha Marinho. Neste sábado, Dia do Cliente, o Bife Sujo reabre para a “revoada das velhas águias” e, em novembro, feito fênix, renasce como choparia.

Só assim, para ouvir a clientela cantar novamente aquele velho rock and roll: “Domingo de manhã, saí pra caçar rã / na minha frente apareceu a tua irmã / Que sarro! / Que sarro!”.

Coluna do 
Dante Mendonça 
14/07/2007

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